dia desses, madrugada alta
insone, acordei a mulher
para matar saudades do adolescente
ébrio, na beira da praia, à espera do sol,
que buscava ouvir o mar chiando ao parir brasa
acompanhado, reconstituí a cena
tendo como elemento novo, além da mulher,
a barricada baixa de nuvens no final do horizonte
deflorada lentamente pelos dedos róseos do poeta
ela olhou e disse que as nuvens pareciam algodão doce
pensei e a mim lembraram ilha grande
que quando avistada da ilha seguinte
vê-se não ilha, mas continente;
imaginei após a amurada interna do forte
dos que querem manter como está
e já saem à guerra vencidos;
recordaram-me também a serra do imbé
fazendo fundos com a planície dos extintos
lhe dando vértebras;
ou ainda a conseqüência do recife
no qual convergissem todas as ondas do atlântico
açoitando a pedra e espalhando espuma
como o cheiro do quarto no amor
o sol nasceu entre nuvens e metáforas
contemplei-o até a cegueira
beijei a mulher e me despedi de homero
que fez do ouro seu anel de noivado
e saiu comendo algodão doce
atafona, 15/04/2000
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